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Ausência de rede de apoio e discriminação dentro e fora da comunidade marcam idoso LGBTI+

Ausência de rede de apoio e discriminação dentro e fora da comunidade marcam idoso LGBTI+
[por Leonardo Dalla Valle]

Geração vivenciou corte de relações familiares e morte de amigos durante ditadura e epidemia de AIDS.

As pessoas heterossexuais e cisgêneras envelhecem da mesma maneira que a população LGBTI+? A resposta, infelizmente, é negativa. A falta de apoio familiar é um aspecto que deixa esse segmento mais vulnerável após os 60 anos, como aponta o ativista e criador do Canal “To Passado”, Luís Baron, de 60 anos. 

“Em linhas gerais, o homem gay da minha geração precisou romper com seus familiares para exercer sua orientação sexual. Sua rede de apoio são amigos que, hoje, também são velhos. Mesmo se possuir uma rede de afetos, essa não suprirá suas necessidades na velhice”, diferencia.

A atual geração de homossexuais idosos também perdeu mais amigos e companheiros dos que as anteriores e posteriores. Pessoas que não tiveram a oportunidade de chegar à velhice por conta da epidemia de AIDS que atravessou a comunidade nos anos 80 e 90. “Somente no ano de 1990 eu enterrei seis amigos. Eu sabia de cabeça o preço do caixão”, relembra Baron.

Das letras que compõem a comunidade, as pessoas transgeneras são as que mais sofrem na maturidade. “A idade média de vida de uma mulher trans é de 35 anos. A maioria foi colocada para fora de casa e, para sobreviver precisaram e ainda precisam recorrer à prostituição. Acabam vivendo uma vida à margem, sendo vulneráveis à droga e à bandidagem”, contextualiza a ativista trans de 71 anos, Lili Vargas.  

A ditadura militar também impediu que muitos homens e mulheres trans tivessem a oportunidade de chegar à terceira idade. “Éramos presas por vadiagem e mortas pela polícia. No Rio de Janeiro, as travestis eram jogadas de cima do Morro da Urca”, ressalta.

Sem família e sem aposentadoria, a trans sobrevivente não tem muito que comemorar ao chegar à terceira idade. “Rejeita-se simples fato de ser idosa e por sua condição de identidade de gênero. Ela é como um objeto que, depois de ser muito usado pela sociedade, foi jogado fora”, lamenta.

Volta ao armário

Outro ponto que preocupa a pessoa LGBTI+ idosa é a volta ao armário na terceira idade. “As instituições de longa permanência (ILT) aceitam o gay se esse não é declarado. Não podem falar dos seus companheiros ou receber visitas. Além disso, há aqueles que voltam a morar com as famílias nos interiores do Norte e Nordeste para serem cuidados. Com isso, precisam esconder novamente sua orientação no fim da vida”, afirma Baron. “Já para a trans, há o risco de passar seus últimos dias tendo que se vestir e performar ser um homem”, conta.

A rejeição também costuma vir dos seus pares. Baron conta que o preconceito de idade é algo forte na cultura gay. “Há uma relação com o culto ao corpo e com a juventude eterna. Há casos de homens idosos hostilizados em locais frequentados pelos mais velhos. Eu mesmo, quando ando nas ruas, vejo os gays jovens literalmente virando a cara para mim. É como seu eu fosse um espelho e os lembrasse do seu futuro”, opina.

A comunidade trans, contudo, parece ser a que valoriza um pouco mais as veteranas, como aponta Vargas. “Eu digo as mais jovens que conheci a juventude e conheço a maturidade, o que me dá direito de falar a elas. Digo para estudarem, porque a beleza acaba”, orienta.

A falta de dados sobre quantos idosos LGBTI+ existem no Brasil dificulta a criação de políticas públicas e tem como efeito colateral uma ausência de representatividade no mercado de serviços. Durante uma feira de produtos e empresas voltados para a terceira idade, o ativista fez um experimento: visitou os 70 estandes que compunham a iniciativa perguntando qual era a relação de cada um deles com o idoso LGBTI+. “A resposta foi zero em todas, incluindo nas ILT. Alguns nem sabiam do que se tratava”, alerta. 

Para o influencer, o problema pode ser minimizado com políticas públicas, organizações não-governamentais com trabalhos para o grupo e mais lugares de interações dentro da própria comunidade LGBTI+. “Sem visibilidade, não haverá um diagnóstico e ações do governo contra o problema”, completa. 

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