Conecta 60+

Filmes e programas de TV até no celular. E a música? Bem-vindo à era do… disco de vinil

Filmes e programas de TV até no celular. E a música? Bem-vindo à era do… disco de vinil
[por Alexandre Petillo]

Brincadeira. Hoje é possível encontrar praticamente toda a música do mundo em plataformas como Spotify e Deezer. Mas ainda nada se compara a experiência do velho bolachão.

Você provavelmente já sabe: hoje existem aplicativos para ouvir música, onde pode se encontrar praticamente tudo, sem pegar nada – desde que se tolere os anúncios. Spotify e Deezer, duas dessas plataformas, oferecem um acervo nunca visto para quem quer ouvir música. Um acesso sem precedentes na história da humanidade que se importa com música – ou pelo menos gosta de ouvir alguma coisa. Em décadas não muito distantes, a gente precisava ter o disco ou gravar a música de alguém. Também existia a possibilidade de esperar tocar no rádio e gravar, mas isso envolvia o risco de o locutor falar alguma coisa por cima da canção – e ele sempre falava. Bem, isso acabou. Se você quiser ouvir Orlando Silva, Led Zeppelin, Emílio Santiago ou Technotronic – até mesmo todos esses em sequência – basta ter um aplicativo no celular.

Uma pesquisa encomendada pela Deezer e feita pela SeniorLab Mercado apontou que mais de 30% dos 60+ já ouviam música por plataformas desse tipo. O estudo também apontou que a maioria, 60%, tem uma predileção pelo gênero sertanejo, seguido do pop (20%), forró (10%) e, sim, funk carioca na quarta posição. Entre os artistas, gostos bem parecidos com os dos filhos e netos: Anitta, Camila Cabello, Marília Mendonça e Maiara & Maraisa na dianteira.

A explicação é que esses artistas são os mais ouvidos em casa, entre os familiares, em reuniões com amigos, filhos, netos, o que faz a ponte com o público 60+, além da exposição maior em programas de TV e redes sociais. O curioso é que essa pesquisa da Deezer contradiz outra feita pelo Spotify (mas que não tem amostra brasileira), que concluia que as pessoas deixam de procurar artistas novos ou músicas recentes quando chegam na casa dos 30 anos. Em todo caso, nunca se ouviu tanto música. Além desses aplicativos, é possível ouvir as principais rádios do Brasil e do mundo, tanto com o celular ou pelo computador. Sem precisar colocar palha de aço na antena, nem nada. Mas se nunca ouviu tanta música, já não se presta mais a mesma atenção. Tanto que a tecla mais utilizada, segundo esses aplicativos, é a “skip” (pular). Música se tornou algo para acompanhar outra atividade mais importante, como andar na esteira, lavar a louça.

Artistas nem pensam mais em um disco completo, mas sim em músicas soltas, lançadas individualmente.

A experiência de ouvir um álbum completo

Mas música, sabemos, é arte. E teve um momento em que um músico gravava um disco e, meticulosamente, pensava onde cada música deveria figurar, para compor o todo da maneira que ele imaginou. Brian Wilson, ex-integrante dos Beach Boys, por exemplo, perdeu a sanidade trabalhando em um disco que fizesse sentido em seu todo. Como vivemos em um mundo muito maluco, ao mesmo tempo que existem essas facilidades tecnológicas para ouvir música sem precisar de nenhum suporte físico, somente o celular, cresce exponencialmente o consumo de discos de vinil. Quando tudo parece dissolver no ar, sentimos vontade de voltar ao real. Pela primeira vez em 34 anos, a venda de LPs superou a venda de CDs nos Estados Unidos. Foram mais de 230 milhões de dólares lucrados com os discos, enquanto o CD arrecadou algo em torno de 129 milhões. Isso não acontecia desde 1986.

Essa volta dos LPs não é da noite para o dia. Trata-se de um movimento que já mexe com o mercado musical de forma devagar, mas gradual, desde 2016. Não é apenas saudosismo, principalmente porque uma fatia grande dos compradores de vinis se encontra na casa dos 25 anos, pessoas que não chegaram a viver o período em que os LPs eram a única opção. Existe até mesmo um movimento chamado “deep listening” ou “audição profunda” para caracterizar os fãs de música que preferem ouvir nesse suporte.

É que a brincadeira é, realmente, divertida. A experiência em ouvir discos de vinil é completa, porque envolve todo um esforço e dedicação que um aplicativo/site não exige nem de longe. Precisa tirar o disco da capa com cuidado, colocar em um toca-discos, calibrar a agulha. E, provavelmente uns 20 minutos depois, em média, será necessário que você levante da poltrona ou onde estiver para virar o disco. Coisa para apaixonado. Mas quem disse que paixão é um negócio ruim? Nesse meio tempo, enquanto presta atenção ao disco escolhido, é possível curtir em bom tamanho a arte da capa, as letras no encarte, a história por trás daquela obra de arte.

Se o ritmo da vida hoje em dia deu uma diminuída e é possível encaixar uma ou duas horas de audição profunda de um disco no seu cotidiano, faça a experiência. Vale no sentido contrário: para desconectar um pouco do mundo maluco, corrido, chegue em casa, esqueça um pouco de tudo, se conecte somente a aquele disco por 40 minutos. Vale como uma terapia.

“O vinil é fundamentalmente uma experiência tátil, visual e auditiva. Manusear as quase 200 gramas do disco nas mãos, colocá-lo no toca discos, observar magníficas artes estampadas em 31cmx31cm, ler o encarte e a contracapa, trocar de lado e ainda ouvir um som que tem vantagens cientificamente comprovadas sobre qualquer som digital, tudo isso faz com que o vinil seja encarado como um fetiche, um objeto de desejo”, explica João Augusto, dono de uma das fábricas de discos do Brasil, a Polysom. Aliás, a Polysom não produz apenas LPs: desde 2018 volto a fabricar também fitas cassete.

Caso tenha guardado alguns LPs comprados ao longo da vida, resgate. Se eles se perderam na estrada da vida, saiba: quase todos os clássicos da música brasileira foram relançados em vinil nos últimos anos e a qualidade dos discos fabricados agora é muito superior. Os discos chegam a ter 140 ou 180 gramas, o que garante uma qualidade muito melhor do que os produzidos décadas atrás. É possível comprar os lançamentos em lojas físicas (sim, elas ainda existem) que enviam para todo o Brasil, como a Locomotiva Discos, Patuá Discos e a Good Times Records, donas de acervos interessantes de novidades, como também de garimpos.

Em uma entrevista para o jornal Los Angeles Times, a compositora e professora de música Pauline Oliveros, que cunhou a expressão “deep listening”, explicou um pouco mais o sentido do que ela quis dizer: “Existe uma diferença entre escutar e ouvir. Escutar é o meio físico que permite a percepção. Ouvir é dar atenção ao que é percebido, tanto acústica quanto psicologicamente”.

E dá um argumento irrefutável para aderirmos à audição profunda: “um balé de Stravinsky causou uma revolta. O mínimo que você pode fazer por ele é se comprometer a ouvir profundamente seus três álbuns completos”.

Discos que fazem 50 anos em 2020 – e que você deveria ouvir sem distração

Tim Maia
Álbum: 
Tim Maia
Lançamento: 1970
Disco de estreia de Tim Maia, que estava com a criatividade represada, louco para começar uma carreira na música. E já disparou clássicos como Primavera (Vai Chuva), Azul da Cor do Mar, Coroné Antônio Bento e Eu Amo Você.

Led Zeppelin
Álbum: 
III
Lançamento: 1970
O Led Zeppelin consolidou seu espaço no hard rock com esse disco, que traz preciosidades como Celebration Day, Since I’ve been Loving You e Immigrant Song.

The Beatles
Álbum: 
Let it Be
Lançamento: 1970
O disco de despedida da maior banda de rock de todos os tempos, Let it Be marca o final dos Beatles. Claro, cheio de clássicos, como a faixa-título, Get Back, I’ve Got a Feeling.

Deep Purple
Álbum: 
In Rock
Lançamento: 1970
Clássico do metal, esse disco marca a entrada de Ian Gillian nos vocais. Ao lado de Richie Blackmore, Ian Paice e Jon Lord, iniciam a fase clássica da banda inglesa. Traz músicas fundamentais do repertório do Purple, como Speed King e Bloodsucker.

Elis Regina
Álbum: 
Em Pleno Verão 
Lançamento: 1970
A maior cantora do Brasil em um momento muito especial da carreira, trazendo interpretações maravilhosas de músicas como Vou Deitar E Rolar (Quaquaraquaqua), As Curvas da Estrada de Santos e These are Songs.

Antonio Carlos Jobim 
Álbum: 
Stone Flower
Lançamento: 1970
O disco marca a volta de Tom Jobim após um hiato de três anos. Se afasta um pouquinho da bossa-nova e se aproxima de Villa-Lobos. Destaque para Tereza My Love, Brazil, Stone Flower, Sabiá e Choro.

Pink Floyd
Álbum: 
Atom Heart Mother
Lançamento: 1970
O famoso “disco da vaquinha”. Foi o primeiro álbum do Pink Floyd a chegar no topo da parada norte-americana.

Miles Davis
Álbum: 
Bitches Brew
Lançamento: 1970
Apesar de ter sido gravado um ano antes, Bitches Brew só chegou às lojas em 1970. Considerado o pontapé inicial do chamado jazz fusion, o disco aproximou Miles Davis de plateias mais jovens, o levando para tocar em grandes festivais pelo planeta.

Simon & Garfunkel
Álbum: 
Bridge Over Troubled Water
Lançamento: 1970
Disco altamente bem-sucedido da parceria – e que também marcou a separação de Simon e Garfunkel. Além da belíssima faixa título, conta com maravilhas como The Boxer e The Only Living Boy in New York.

Novos artistas para você atualizar suas preferências musicais

Para quem quer descobrir novos artistas, de acordo com estilos que gostava na adolescência, deixamos algumas dicas:

Se você curtia soul music, Steve Wonder, Motown, pode ser que você goste de:

Black Pumas: Acabaram de lançar o primeiro disco, que traz as irresistíveis “Colors” e “Black Moon Rising”.

Michael Kiwanuka: Cantor e compositor britânico, mistura soul music com pitada de folk. O disco “Love & Hate” já é um clássico moderno.

Se você curtia Elis Regina, pode ser que você goste de:

Céu: Cantora e compositora paulistana, não tem o alcance vocal de Elis, claro, mas é uma das principais vozes femininas da nova geração, lançando bons discos em sequência. Destaque para o álbum “Tropix”.

Luisa Maita: Sua mistura de samba com música eletrônica conquistou a crítica e lota shows – quando ainda se podia ir a show. Destaque para “Lero Lero”.

Se você curtia Black Sabbath e Deep Purple, pode ser que você goste de:

The Winery Dogs: Power trio que coloca peso e distorção em canções que também transitam pelo blues, soul.  

The Answer: A banda toca como um Led Zeppelin, colocando um peso gigante no blues. O detalhe é que soa como os anos 1970, com a tecnologia de gravação de hoje. Destaque para o disco Rise.

Se você curtia Beatles, pode ser que você goste de:

Tame Impala: Banda australiana que aposta firme na psicodelia. Lançou um belo disco em 2020, chamado The Slow Rush.

The Shins: Grupo norte-americano que faz um pop esquisito, experimental. O disco Oh, Inverted World é maravilhoso.

Se você curtia Guilherme Arantes dos anos 70 pode ser que você goste de:

Silva: Grande cantor, compositor, Silva lançou vários discos interessantes, preocupado com a carpintaria pop. Destaque para Brasileiro.

Rubel: O cantor carioca é outro que também tem o cuidado de lapidar seus discos com o melhor do pop. O disco Casas é lindo.

Se você curtia Ramones pode ser que você goste de:

The Gaslight Anthem: Uma das novidades mais celebradas do punk rock dos anos 2000. O disco The ’59 Sound poderia ter sido gravado em 1977.

Jay Reatard: Um ícone punk como antigamente em pleno século 21. Seu disco Blood Visions é uma pedrada como pede a cartilha desse gênero.

Se você curtia Luiz Gonzaga, forró, pode ser que você goste de:

Mariana Aydar: Com o disco Veia Nordestina, a cantora paulistana atualizou o forró como se estivesse vivido toda a existência no semi-árido pernambucano.

Fulô de Mandacaru: Banda do sertão da Paraíba que carrega o clássico forró nordestino por todo o país.

Se você curtia Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Candeia, pode ser que você goste de:

Roberta Sá: Carioca, cantora de samba versátil, do levantar a avenida ao samba miudinho. O disco Delírio é lindo.

Casuarina: Grupo carioca lançou uma sequência de discos e composições inspiradas que podem figurar com tranquilidade entre os clássicos do gênero. 

COMPARTILHE NAS REDES SOCIAIS
Compartilhar no facebook
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no twitter
Compartilhar no telegram
Compartilhar no whatsapp

newsletter

Cadastre seu e-mail e receba as últimas notícias e novidades da CONECTA 60+.

Você também pode gostar