Conecta 60+

Foi difícil se atualizar com toda a evolução tecnológica dos últimos 10 anos? Tudo vai se intensificar nos próximos 10. A boa notícia? Você vai viver até os 130.

Foi difícil se atualizar com toda a evolução tecnológica dos últimos 10 anos? Tudo vai se intensificar nos próximos 10. A boa notícia? Você vai viver até os 130
[por Alexandre Petillo]

Boa parte do mundo moderno foi previsto pelos livros de ficção-científica. E o que esse gênero e os futuristas imaginam para 2030? A gente conta.

Você deve ter percebido que, diante de alguns absurdos do mundo atual, muitos buscaram respostas nas previsões de autores de clássicos da ficção-científica mundial. O mundo em 2020 de muitas formas se parece com o imaginado por gente como George Orwell, Philip K. Dick ou Aldous Huxley. Para citar somente um exemplo, aproveitando a efeméride do aniversário da TV no Brasil, vamos falar do livro “A Estação Espacial”, de Arthur C. Clark, escrito em 1945. Nele, Clarke dizia estações espaciais poderiam ser utilizadas para transmitir sinais de televisão. Dezessete anos depois, em 1963, o satélite Telestar 1 fez sua primeira transmissão.

Ou que tal irmos até a página 183 do livro “A Realidade de Madhu” (ed. Novo Século), da escritora paulista Melissa Tobias, lançado em 2014. Repito: 2014. “Em 2020, quando a Terceira Realidade terminou de envolver todo o planeta Terra, uma pandemia global matou mais de três bilhões de terráqueos. Foi um momento muito caótico que durou dois anos. Foi uma pandemia viral psicossomática que penetrava somente em corpos incompatíveis com a vibração de amor ao próximo. Não havia para onde fugir”. Eita.

Uma das mais populares series de ficção-científica atuais, “Black Mirror” (Netflix), deu um tempo em novos episódios. Os roteiristas declararam que a sociedade atual está absurda demais e é impossível competir com ela. Uma resposta um pouco assustadora, eu diria – se você já viu algum episódio, há de concordar comigo.

Será que é para tudo isso? O Conecta 60+ conversou com Roberto Causo, um dos principais autores brasileiros de ficção-científica, dono de uma obra extensa recheada de livros impressionantes como “A Corrida do Rinoceronte”, “Shiroma, Matadora Ciborgue” e o mais recente “Brasa 2000”, além de uma série de space opera em desenvolvimento ambientada quinhentos anos no futuro chamada “Universo GalAxys”. Os próximos anos não são animadores pelo olhar de Causo: “Com pandemias mortais, movimentos antivacina e negação do agravamento do clima o mundo aprende que ignorar as conclusões da ciência cobra um preço elevado. A piora da crise climática na próxima década vai se tornar uma questão política global, forçando as sociedades a uma adaptação muito rápida. As pessoas sensatas vão pedir decisões políticas que as obriguem a rever suas atitudes perante meio ambiente, preservação da natureza e hábitos de consumo. ‘Consumismo’ vai voltar a ser palavrão, assim como ‘desperdício’”, contou Causo ao Conecta 60+.

De nativos analógicos para digitais

O fato é que muita coisa mudou rapidamente nos últimos 10 anos, tanto na sociedade quanto na tecnologia. Nós, os nativos analógicos, tivemos que praticamente aprender uma habilidade nova por mês para conseguir acessar a conta no banco, se comunicar com outras pessoas, comprar comida, pedir o táxi, descobrir um endereço, assistir ao programa de TV favorito e até quem sabe, arrumar um namoro. Você consegue se lembrar de um tempo em que não existia WhatsApp? Pois o aplicativo só começou mesmo a funcionar de forma efetiva em 2010. Mas imaginar um mundo sem WhatsApp parece um tempo muito, muito, muito remoto.

Se voltarmos mais 10 anos antes da chegada do WhatsApp, os celulares nem tinham internet. Não existia 3g, wi-fi. Se falava por e-mail ou por salas de chat. A internet, quem tinha, era por discagem o que inutilizava seu telefone… fixo. Falar de se comunicar por imagem através do celular, mesmo enviar um áudio ou, loucura total, ver uma serie de TV na telinha era algo totalmente fora da realidade – pelo menos brasileira – no ano 2000. O filósofo Robert Wilson desenvolveu a teoria do Jesus Saltador. Jumping Jesus. Basicamente, Wilson conceitua o “Jesus” de sua teoria como a unidade de conhecimento de fatos científicos conhecidos pela humanidade no ano em que Jesus Cristo nasceu. Wilson contabiliza o acúmulo de ciência nos séculos seguintes e estabelece o ano de 1500 como o ponto em que a humanidade dobrou seu conhecimento em relação à data inicial – dois Jesus.

A próxima vez que uma nova duplicação do conhecimento ocorre: 250 anos depois, pouco antes da Revolução Francesa. Depois, mais 150 anos e a humanidade possui, graças à Revolução Industrial, oito Jesus. Aí segue o padrão: 8 Jesus em 1900, 16 Jesus em 1950, 32 Jesus em 1960, 128 Jesus em 1973, 512 em 1982. Nos últimos 20 anos, quantos Jesus? E nos próximos 20? Provavelmente um por dia. 

Tecnologia: de facilitadora à vilã em processo de redenção

“A tecnologia 5G vai acelerar a automação, com o desemprego na cola, e uma explosão de consumo não-consciente — na contramão do consumo consciente de que o mundo precisa. Ao mesmo tempo, a boataria nas redes sociais deve diminuir com a auto regulação das empresas servidoras, pela pressão que já acontece agora. As consequências da onda de fake news políticas e de teorias de conspiração vão levar um segmento do público a se afastar, a se policiar mais ou exigir uma racionalidade ainda maior, no gerenciamento dessas redes”, prevê Causo para o Conecta 60+.

Ou seja, a tecnologia que veio nos últimos tempos facilitar nossas relações, conexões, também se tornou uma arma perigosa em quem entendeu como usa-la para o mal. Entender toda essa evolução, aparar arestas, repensar o que aprendemos com nossas criações formam a base das evoluções da próxima década. Quem concorda com essa minha digressão é Isaac Asimov. Em 31 de dezembro de 1983 ele escreveu que em 2019, o mundo já teria terminado a fase de transição para a informatização e entraria em uma nova etapa de “melhorias permanentes”. E completou: “Os efeitos da irresponsabilidade humana em termos de desperdício e poluição se tornarão cada vez mais evidentes e insuportáveis. Mas os avanços tecnológicos colocarão em nossas mãos ferramentas que ajudarão na reversão da deterioração do meio ambiente”.

Inteligência Artificial

Bem, se tivemos que suar a camisa para nos atualizar no mundo pós 2000, muito mais coisa vem por aí. A vantagem é que, justamente, a gente já aprendeu alguma coisa. Fazendo uma rápida pesquisa nos temas abordados nos recentes livros de ficção-científica dos anos 2000, já temos pistas de tecnologias que já estão em andamento e devem se tornar comuns em nosso dia-a-dia em breve. A inteligência artificial é a principal delas. O refinamento da habilidade das máquinas em aprender e agir de forma inteligente vai mudar nossa relação com o mundo muito em breve. Assim como a internet das coisas: logo, não só sua TV será “smart”, mas também teremos “smart geladeiras”, “smart fogões” e até “smart sofás”. Móveis transmitindo dados o tempo todo sobre nossos hábitos e necessidades. Não apenas dentro de casa, mas cidades inteiras conectadas.

A realidade virtual também bate à porta. Com a sombra de novas pandemias se tornarem regulares, viajar para outros lugares sem sair da própria casa pode se tornar a única maneira de viajar. Veículos autônomos buzinam na nossa porta, impressoras 3D e 4D desenvolvem um vaso ou um membro do corpo. E toda essa informação filtrada vai ajudar o mercado a oferecer produtos e serviços altamente personalizados, de acordo com seus hábitos, manias e vontades pessoais. Em grande escala.

Os 100 anos serão os novos 50

Ah, antes que eu me esqueça: vamos viver até os 130.

Acha que é loucura? Mas em breve o 100 será o novo 50. Quem diz isso é Faith Popcorn. Faith Popcorn é futurista, escritora, fundadora e CEO da empresa de consultoria de marketing BrainReserve. Tem dúvidas se ela é boa em prever o que vem por aí? Largo um caso. No final dos anos 1970, Faith desenvolveu a teoria do “cooconing” (casulo), apontando que num futuro não muito distante dali as pessoas passariam mais tempo em casa.

Em 1981 a IBM a procurou para saber no que aquilo poderia ser interessante à empresa. Faith respondeu que as pessoas trabalhariam mais no ambiente doméstico. Sendo assim, a IBM foi a primeira a desenvolver um computador de uso pessoal. Você pode ser cético não acreditar na Faith – mas isso não costuma ser bom negócio. Em 1980, a futuróloga comunicou a alguns dos maiores anunciantes do mundo, que esquecessem o Walmart e as lojas de departamento, pois as pessoas passariam a comprar tudo a partir de suas próprias casas. “E sabe o que a P&G e a Unilever disseram? Hahaha, isso não vai acontecer. E nós dissemos: Hohoho, sim, vai”, comentou Faith. (Insira aqui aquele emoji com o bonequinho segurando o queixo).

Pandemia é aceleradora da evolução digital

“A pandemia está acelerando nossa evolução”, escreveu Faith Popcorn em seu site. O conceito de casulo, criado pela futuróloga lá nos anos 1970, obviamente, ganha ainda mais força agora, quando precisamos nos manter socialmente distantes até sabe-se lá quando, considerando que novos vírus podem aparecer de tempos em tempos. “Vamos apenas deixar um casulo para o outro. Restaurantes, salas de concerto, cinemas, estádios de esportes – todos eles precisam mudar. Qualquer saída deve garantir um local sem patógenos. Em Amsterdã, o proprietário de um restaurante está pensando em colocar cabines individuais em estilo estufa, onde os clientes podem beber coquetéis com segurança. A limpeza de qualidade médica será obrigatória, assim como os sensores farão a varredura e rastrearão os vetores de vírus. Os passaportes de imunidade desbloquearão a admissão a grandes encontros sociais. As razões para sair de casa diminuirão. Mas os nossos casulos não ficarão parados. Eles serão cápsulas sem motorista – um micro-apartamento ou mini-suíte de hotel sobre rodas – que nos levam para uma mudança de cenário, para permitir que nosso desejo de viajar se solte utilizando hologramas e realidade virtual”, garante Faith Popcorn, em seu estudo sobre a vida pós-covid publicado em seu site.

O olhar para o futuro de Faith fica muito interessante quando ela fala sobre o cenário do planeta para os mais velhos. Muito do que ela fala se relaciona – e complementa – muito com o que falamos sobre cinema, TV/streaming, moda nos textos aqui do Conecta 60+. “É um bom momento para envelhecer. Estamos entrando em uma era em que os idosos terão vidas extraordinariamente longas e uma posição poder na cultura. Na década de 1950, a expectativa média de vida humana era de menos de 50 anos. Hoje, o número global ultrapassou os 70 anos – e está subindo. Um indicador: nos últimos 15 anos, o número de americanos com mais de 100 anos cresceu espantosos 43%. Os sinais mostram que este é um fenômeno global. E seu poder de compra é forte. Nos Estados Unidos, pessoas com mais de 50 conduzem quase US$ 8 trilhões em atividades econômicas. Em 2030, aqueles com mais de 55 anos nos EUA serão responsáveis ​​por metade do poder de compra da população. No Japão esse número aumenta para 67%; na Alemanha, 86%. E esses consumidores que vivem muito e gastam muito não são os avós estereotipados e pouco sofisticados de anos anteriores. Os boomers são bastante experientes em tecnologia e são bons compradores. Gastam com transporte, entretenimento, comida e álcool. Os americanos com mais de 60 anos serão responsáveis ​​por pelo menos 40% do crescimento do consumo na próxima década”, profetiza Faith em seu estudo.

“Os 100 anos serão os novos 50”, garante Faith. Ela cita em seu estudo pesquisas que estão sendo desenvolvidas por empresas como a Alphabet, do Google, Elysium e Life Biosciences que estão trabalhando em soluções que se relacionam com os genes que protegem os organismos da deterioração e doenças. Eles oferecem suplementos capazes de manter as células mais jovens e totalmente funcionais. Segundo o estudo, existe inclusive um Fundo de Longevidade, com milhões de dólares alocados para fomentar empresas inovadoras de longevidade.

Para antes mesmo de 2030, Faith prevê que os adultos mais velhos logo poderão fazer uso, caso necessário, de exosqueletos, capazes de aumentar a força e o equilíbrio do corpo. Cita que alguns protótipos do tipo já estão sendo usados ​​por funcionários de fábricas da Ford e BMW e acredita que em breve esses benefícios serão alcançados por meio de macacões elegantes que oferecem maior potência e mobilidade por meio de circuitos de flexibilidade, permitindo que até mesmo pessoas com mais de 100 anos tenham um estilo fisicamente ativo.

Um outro ponto muito animador do estudo desenvolvido pela Faith Popcorn é sobre o mercado de trabalho para os 60+. Um grande problema, atualmente, onde as vagas estão cada vez mais raras para quem chega aos 40. Imagine aos 60. Segundo ela, os trabalhadores mais velhos se tornaram a população de funcionários de crescimento mais rápido, com o dobro de idosos do que adolescentes atualmente trabalhando nos Estados Unidos. “Em 2024, trabalhadores com 55 anos ou mais terão se transformado do menor segmento de trabalhadores americanos para o maior. Em um relatório da Bloomberg, os recrutadores elogiaram os trabalhadores mais velhos como experientes, pontuais, alegres e dedicados por contrato aos colegas mais jovens”, escreve Faith. Envelhecimento ativo é isso aí. Agora, é ter fé na pipoca e esperar que tudo isso saborosamente estoure de verdade.

Durante a pandemia vimos alguns lados dos seres humanos do ano 2020. Presenciamos cenas de estupidez completa, com negação da gravidade da situação, de egoísmo com “cada um por si na guerra pelo papel higiênico”, para ficar em alguns exemplos bem superficiais. Mas também vimos uma mudança de pensamento coletivo sobre apoiar o pequeno negócio, olhar com mais carinho para quem precisa de ajuda, um movimento uniforme em prol de uma renda básica universal. Diante da fragilidade da vida sob o ataque de um vírus invisível que rouba nosso ar, repensamos sobre a qualidade do alimento que comemos, da importância de lavar as mãos, de contaminar o vizinho. O mundo pode melhorar. Mesmo na visão de um escritor de ficção-científica, um mestre na arte de criar distopias. “A crise climática vai exigir muitos sacrifícios de todos, mas vai impulsionar a inovação tecnológica, um Estado mais responsável, relações internacionais mais alinhadas e mais pesquisa científica. A próxima década deve representar o início de um momento crucial da humanidade, com um esforço conjunto como nunca foi visto. Os esforços dessa década, se forem bem-sucedidos, podem não apenas garantir a nossa sobrevivência, mas dar à luz uma sociedade mais justa”, diz Roberto Causo. Esse seria um mundo muito interessante para envelhecer.

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