Em uma sociedade ainda machista e sexista, homens e mulheres vivenciam o envelhecimento de formas diferentes.
Quando falamos sobre envelhecer o “inconsciente coletivo” geralmente pauta em três cenários: condições nem sempre ideais de saúde, perda da importância social e a pressão estética. Infelizmente ainda somos uma sociedade que pensa no envelhecimento atrelado a doenças e perdas que vão do tônus muscular à uma vida socialmente interessante e divertida. Tanto se reproduz esse tipo de olhar e comportamento que acaba se tornando uma verdade para muitas pessoas. E não ter referências para pensar e agir de forma diferente acaba por enfatizar esses cenários.
A maturidade pela perspectiva feminina
A mulher madura de hoje foi, em grande parte, a mulher jovem que teve sua vida centrada na responsabilidade de cuidar da família e, não diferente de agora, mesmo tendo uma profissão e uma carreira, teve de lidar com tal responsabilidade doméstica sem a participação ativa e igualitária do seu parceiro. O tempo, escasso por conta de tantas atividades que se somam, acaba sendo pouco para que essa mulher cuide da si, descubra novos interesses, aprenda atividades por prazer e não somente para o currículo profissional, e até mesmo impede que ela enxergue a sua beleza natural, já que é condicionada, culturalmente, a se comparar em corpos e perfis que de longe representam uma realidade estética.
Ainda que “assumir os cabelos grisalhos” seja um ato [r]evolucionário e que a indústria de cosméticos insista, erroneamente, em chamar seus ativos de “anti-idade”, envelhecer para a mulher costuma ser mais saudável do que para o homem, e os motivos são muitos: primeiro porque ela acaba tendo mais tempo para cuidar de si, olhar para suas necessidades e vontades, afinal, os filhos não dependem mais dos seus cuidados. A mulher também tem o hábito de cuidar melhor da saúde desde cedo e esse comportamento reflete de uma maneira muito positiva na maturidade, já que ela está mais acostumada a frequentar as consultas médicas com propósito preventivo e não quando está, obrigatoriamente, com um problema específico. Esse tempo que ela não teve na juventude é aproveitado na maturidade com atividades culturais, aprendizado, viajando, com uma liberdade que ela não conseguiu ter antes por inúmeros motivos. Os padrões estéticos, embora continuem fazendo coro de maneira desproporcional, já não são mais tão desafiadores, afinal, a mulher madura não deseja mais se encaixar neles, tendo uma consciência libertadora de si mesma.
A maturidade pela perspectiva masculina
Em contrapartida, o homem, geralmente, não envelhece tão bem quanto a mulher. E isso também tem uma ligação com o comportamento machista e sexista que vivemos. Exemplo? O maduro de hoje não foi um jovem habituado a frequentar consultas médicas de modo preventivo. Ele mal conhece seu estado de saúde, seu corpo e suas reais necessidades. Embora não sofra com as pressões estéticas como a mulher, e seus “grisalhos” sejam facilmente aceitos e muitas vezes atrelados a um charme, é muito comum que um homem de 60, 70 anos aparente ser muito mais velho do que a mulher na mesma idade e isso tem a ver mais com a sua saúde do que uma questão estética. Mais: a saúde mental do homem maduro é amplamente impactada pela perda do seu papel social e os primeiros sinais costumam dar início no processo de aposentadoria. Ele se enxerga como parte do “inconsciente coletivo” que conecta envelhecimento com falta de importância social e isso desencadeia em quadros significativos de depressão e de isolamento social por vergonha de não “pertencer” mais a uma classe ativa mercadologicamente. Com esse comportamento, o homem maduro é mais resistente a buscar novos aprendizados e ao lazer, já que essas atividades costumam estar atreladas ao contato com as pessoas do ambiente de trabalho.
Como envelhecer sem carregar a pressão dos papeis que a sociedade dá ao homem a à mulher
Ainda que seja uma mudança social, ela pode começar dentro de casa, com a própria família, no grupo de amigos, no seu bairro e assim ir ganhando mais espaço e entendimento. Muito falamos sobre influenciadores digitais como sinônimo de blogueiros com um alto número de seguidores, mas esquecemos que influenciamos diretamente nossas redes de contato e isso começa dentro de casa. Corrigir uma marca que tem apelo sexista, machista e estereotipada do envelhecimento é nossa obrigação. Explicar para quem convive conosco que determinada fala, pensamento e/ou atitude não representa o envelhecimento dando exemplos práticos do cotidiano é um caminho que também é de afeto. Não isolar as pessoas por conta da idade delas é essencial. Parece pouco, mas todos nós, independente da faixa etária, buscando aprender e a replicar as práticas do Envelhecimento Ativo, é muita coisa.
E esse é o papel do Conecta 60+: promover conversas e conexões que ajudem, na prática, um envelhecimento sem essas pressões. Para quem deseja conhecer melhor nossas atuações, entre em contato conosco: contato@conecta60mais.com.br